A “velha” historiografia brasileira
reservou a temática indígena para o período chamado Colonial, quando foram
estabelecidos os primeiros contatos com os povos nativos apelidados de índios.
Sem compreensão e respeito as suas diversidades e expressões socioculturais, os
europeus instalaram o processo de catequização e exploração da mão-de-obra
indígena. A História relata as várias posições dos portugueses quanto aos
índios na criação dos aldeamentos, na declaração de guerra justa contra os
“bárbaros dos sertões”, na extinção das aldeias e na fundação das vilas. O
intuito era “civilizar os selvagens” e assim fortalecer o poder de Portugal no
território, possibilitando, então, maiores retornos a Coroa quanto aos impostos
e efetivação do projeto colonial.
Os índios foram vistos como “raça
inferior”, cuja conseqüência ao estabelecer contato com uma “raça superior” era
a aculturação, ou seja, assimilação dos aspectos socioculturais dos portugueses
e o aniquilamento dos seus antigos rituais e de suas relações sociopolíticas.
Vigorava na escrita histórica a etnologia das perdas dos traços originais,
assim como o provável e determinado desaparecimento dos povos indígenas ainda
existentes no século XIX e XX. Antropólogos e sociólogos como, Curt Nimuendajú,
Estevão Pinto e Darcy Ribeiro, ratificaram as perdas culturais desses povos,
bem como a sua tangível extinção.
Entretanto, a nova história indígena
propõe uma (re)análise dos papéis desempenhados pelos indígenas no processo histórico,
elucidando questões sobre o comportamento dos índios frente as diferentes
situações enfrentadas a partir da colonização como, a resistência oferecida não
apenas pelos chamados bárbaros dos sertões, responsáveis por invasões e mortes
de portugueses, mas também pelas alianças firmadas com o objetivo de adquirir
vantagens frente aos inimigos e juntos aos colonizadores e por saberem de sua
importância no projeto colonial. Os índios não perderam seus “traços
originais”, eles se apropriaram de determinados aspectos culturais dos
“brancos”, fazendo releituras e adaptando para a sua realidade.
Os índios foram e são sujeitos da
história. Eles participaram ativamente da construção do Estado brasileiro e
junto aos movimentos sociais e as ONG’s reivindicaram o reconhecimento de seus
direitos ao território e a livre expressão de seus aspectos socioculturais e o
respeito às diferenças étnicas. Essa luta que resultou nos artigos 231 e 232 da
Constituição Federal de 1988, atualmente a vigente, e na demarcação de territórios
por todo o Brasil. Contrariando as perspectivas dos antigos pesquisadores, o
número de indígenas no país vem tendo um aumento significativo, principalmente
em comparação ao restante da população, tendo o Brasil hoje 817 mil pessoas que
se declaram índios.
Por: Denise Batista Lira - Licenciada em História pela UFRPE, Especialista em História das Artes e Religiões, Mestranda do Curso de História UFPE
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