29 de mar. de 2012

PRECONCEITO AFETA APRENDIZADO


ESCOLA: Crianças negras sofrem efeitos da discriminação.


Brasília – Apelidos, comentários discriminatórios, ofensas. Esse é o ambiente que crianças negras, enfrentam nas escolas brasileiras, de acordo com pesquisa da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciências e Cultura (Unesco).
            Um dos resultados mais claros disso é a diferença de pontuação entre brancos e negros. Um cruzamento com dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) feito nesse estudo mostra que a média de um aluno branco no 3º ano do ensino médio pode ser até 22,4 pontos mais alta de que um aluno negro (numa escala de 100 a 500 pontos).


            O estudo “Relações raciais na escola: reproduções de desigualdades em nome de igualdade”, feito pelas pesquisadoras Mary Castro e Miriam Abramovay, usou dados do Saeb 2003 para checar diferenças de resultado entre crianças e jovens brancos e negros. Foram entrevistados 500 estudantes e professores de 25 escolas em 5 Estados.
            “Do mesmo modo que a violência física, sem dúvida o preconceito tem impacto na aprendizagem. Em uma escola onde as relações são agradáveis, fica mais fácil para aprender”, explica Miriam Abramovay. A coleção de apelidos recolhida pelas pesquisadoras vai dos tradicionais “Picolé de Piche” e “Nêga Fulô” até palavrões que as pesquisadoras se recusam a reproduzir.
                 O carioca Glauber Reinaldo, 20 anos, conhece bem alguns deles: “Exú de mangue”, “Neguinho”. Todos ganhos na escola, onde ainda há quem diga que não há racismo. “É absurdo alguém falar que a sala de aula está livre de preconceito. Os nomes que colocam na gente são muitos fortes. Chamar alguém de macaco, que é algo muito comum, não é normal, é discriminação”, desabafa aluno do pré-vestibular da ONG Educafro, Reinaldo sempre estudou em escola pública, onde foi alvo de racismo por diversas vezes.


            O episódio mais marcante ocorreu há pouco mais de dois anos, quando foi injustamente acusado de furto, junto com um colega. Os dois eram os únicos negros da turma de 40 adolescentes. “Ficamos chocados. Todo mundo foi em cima da gente e ficou olhando atravessado”, recorda ele. Apesar da humilhação, Reinaldo não pensou em abandonar o estudo. “Fiquei muito triste, mas nunca me passou pela cabeça sair da escola. Senti raiva, mas fiquei quieto”.
            Lourama Pinto, 18, chegou a ter de fazer sozinha um trabalho que deveria ser elaborado em dupla, porque nenhum dos colegas quis trabalhar com ela, única negra da sala. Já adolescente, não pensou duas vezes quando foi xingada por um colega. “Ele usou termos pejorativos. Decidi reclamar para a diretora”. A atitude resultou em algo que segundo ela, “acontece uma vez em 1 milhão”: a direção afirmou que não admitiria mais discriminação na escola.
            As situações vividas pelos dois jovens cariocas, dizem as pesquisadoras, são corriqueiras no país e podem ser a causa de resultados escolares tão diferentes. A diferença das médias, mostra a pesquisa, se amplia com o tempo. Na 4ª série, em matemática, a média dos brancos no Saeb é de 12 pontos maior, mas se amplia para 22,4 pontos a mais no 3º ano.
            A proporção de estudantes negros com pontuação considerada crítica e muito critica também é maior: em matemática na 4ª série são 44,7% dos brancos, mas chega a 56% dos negros. Mesmo quando se leva em consideração a classe social as diferenças, apesar de menores, se mantém. Na classe A, 10,3% dos brancos tiveram avaliação crítica e muito crítica no Saeb. Entre os negros, mais que o dobro: 23,4%.

Fonte: Jornal do Commércio

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